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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Por abertura ou final da Copa, Bahia usou até história; sorteio é 'consolação'

Descobrimento do Brasil virou argumento para articulação política junto à Fifa. Secretário estadual aposta em mística da região para seleção brasileira chegar ao hexa





Divulgação
Uma das salas da Arena Sauípe, na Bahia, com o slogan "O hexa começa aqui"

"O hexa começa aqui". Com esse slogan, a Costa do Sauípe, resort que receberá o sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2014, em 6 de dezembro, inaugurou no último sábado uma arena multiuso . Mas a frase poderia ter outro sentido caso a articulação política encabeçada por Jacques Wagner, governador da Bahia, tivesse surtido efeito junto à Fifa.
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Descentralizar os principais eventos do eixo Rio-São Paulo, mostrando a grandeza e a pluralidade do Brasil, foi o argumento que os responsáveis pela Copa na Bahia se apegaram para levar a Salvador o jogo de abertura ou de encerramento do torneio. Na hora de convencer a Fifa, até o dia 22 de abril de 1500 fez parte do contexto. Foi nesta data, em que se comemora o descobrimento do Brasil, que Pedro Álvares Cabral avistou o território que hoje corresponde a Porto Seguro, no litoral baiano. A ideia era mostrar que o pontapé inicial do Mundial ou uma hipotética presença da seleção brasileira na final daria mais peso histórico ao evento se fosse realizado na terra onde o país efetivamente nasceu.
A articulação política, no entanto, foi em vão. A abertura será na Arena Corinthians, em São Paulo, enquanto a decisão ocorrerá no Maracanã, no Rio de Janeiro. A pluraridade brasileira ficará representada na quantidade generosa de sedes, 12 ao todo. Mesmo assim, a Bahia angariou um dos eventos mais importantes: o sorteio dos grupos. Prêmio de consolação?

Ney Campello, secretário estadual para a Copa, não vê o sorteio como uma compensação, mas admite que o estado usou todos os artifícios políticos para receber as partidas mais simbólicas da competição. "Foi na Bahia que o país do futebol nasceu", disse, recorrendo ao descobrimento do país. "Nossa preferência era pelo jogo de abertura e fizemos uma campanha histórica para tentar. Não considero (o sorteio) um prêmio de consolação, já que isso nos posicionou a receber um dos maiores eventos que envolvem uma Copa em termos de audiência. A política, no sentido mais nobre da palavra, nos levou a articular junto à Fifa, que foi sensível. É saudável que a Fifa se oriente para que a Copa não se concentre apenas em um lugar", completou. 
Outro elemento histórico aparece no discurso dos políticos baianos quando o assunto é o Mundial: a mística da região. Campello citou o sorteio da Copa das Confederações, em que uma confusão na ordem das bolinhas bagunçou a ordem das seleções. Uma das consequências da gafe foi definir o principal duelo da primeira fase do torneio para a Fonte Nova. "(O chef) Alex Atala confundiu as bolas e deu Brasil x Itália na Bahia. Temos uma energia forte aqui. O esporte é uma grande paixão que envolve mística e energia. Tomara que isso ajude o Brasil a conquistar o hexacampeonato", vislumbrou o secretário.

O axé baiano, embora possa facilitar a trajetória da seleção brasileira rumo ao sexto título mundial, pode ficar restrito apenas ao sorteio. Como país-sede, o Brasil vai encabeçar o Grupo A, jogando a primeira fase em São Paulo, Fortaleza e Brasília. A passagem pela Fonte Nova aconteceria apenas se ficasse em segundo lugar na chave e chegasse às quartas de final. 
Na base do diálogo




William Volcov/Brazil Photo Press
Torcedora mostra cartaz de protesto na Fonte Nova durante a Copa das Confederações

Assim como as outras cinco sedes da Copa das Confederações, realizada em junho, a Bahia também viu emergir as manifestações populares durante o torneio. Ney Campello também acredita que a insatisfação pode voltar mais forte no Mundial do ano que vem e sugere uma aproximação maior entre poder público e sociedade para que ninguém tenha seus direitos violados, embora a Fifa adote uma postura reticente de que nenhum incidente extracampo pode atrapalhar o andamento do evento.
"O ano de 2013 comprovou que o esporte não é o ópio do povo. Vi jovens fazendo protesto na rua e mais tarde torcendo para a seleção com a cara pintada no estádio. Apoiar a Copa e pedir por melhorias não é um paradoxo. O que precisa é aumentar a capacidade de diálogo. O povo não é contrário à Copa, mas acha que, se é possível construir estádios de qualidade, o mesmo tem de ser feito na saúde, na educação, e está certíssimo nessa reivindicação. É preciso que a população apoie o evento, e isso não significa ser contrário às manifestações. Isso só se consegue com diálogo", refletiu o secretário estadual para a Copa na Bahia.
O ponto mais preocupante na Bahia após a Copa das Confederações, no entanto, não foram as manifestações, segundo Campello. "A interdição de ruas foi o que mais gerou reclamação, por conta da proximidade da Fonte Nova com o centro antigo de Salvador. Mas isso também é uma questão de diálogo. No Carnaval bloqueiam as duas principais vias da cidade, mas a população sabe que é passageiro e traz muitos benefícios para a região. Com a Copa será o mesmo".

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